Indico a Penny (ou a Gláucia) a candidata a Presidência da República, neste nosso Brasil virtual, pelo PANE! Afinal, quem quiser lançar seu nome é só escrever aqui. Um grande beijo, minha querida presidente!
Heleno Álvares
terça-feira, 20 de outubro de 2009
sexta-feira, 26 de junho de 2009
Agora é o PANE!
O Partido Anarquista quer discutir
a falta de ideologia no Brasil.
Agora é a vez do PANE lançar um
candidato à Presidência da República
Virtual do Brasil. Ou seja: sendo "Virtual",
ela vai existir de verdade. Quer se candidatar?
Lance seu nome. Inté!
Heleno Álvares
quarta-feira, 24 de junho de 2009
Pane
Chegou o PANE: Partido Anarquista Nacional Esquerdista para acabar com a Pane Ideológica Brasileira! E como bom Partido Anarquista, este já existe a partir do momento em que você começou a ler este "Anti-Manifesto"!
quinta-feira, 19 de março de 2009
quarta-feira, 11 de março de 2009
Um Poema em Nome de Gláucia
Um Poema em Nome de Gláucia
(Por seus lúcidos 18 anos)
O universo
continua crescendo
do céu ao meu quarto
nasci de um parto
e permaneço nascendo:
sendo mulher
nasço-me Sereia
GlauSereio-me
no que espalho
GlauSereio-me
no que unifico
GlauSereio-me
quando parto
GlauSereio-me
quando fico
GlauSereio-me
no Ser que gero
GlauSereio-me
no som que teço
GlauSereio-me
quando dilacero
GlauSereio-me
quando envelheço.
Pra atingir a maior idade
preciso da cronologia
mas, prefiro a mental-idade;
a Vida toda é um só Dia
onde terei felicidade
em viver com a Sofia
que me deu luminosidade
quando a pari - pura Poesia.
Heleno Álvares
05/03/2009
(Por seus lúcidos 18 anos)
O universo
continua crescendo
do céu ao meu quarto
nasci de um parto
e permaneço nascendo:
sendo mulher
nasço-me Sereia
GlauSereio-me
no que espalho
GlauSereio-me
no que unifico
GlauSereio-me
quando parto
GlauSereio-me
quando fico
GlauSereio-me
no Ser que gero
GlauSereio-me
no som que teço
GlauSereio-me
quando dilacero
GlauSereio-me
quando envelheço.
Pra atingir a maior idade
preciso da cronologia
mas, prefiro a mental-idade;
a Vida toda é um só Dia
onde terei felicidade
em viver com a Sofia
que me deu luminosidade
quando a pari - pura Poesia.
Heleno Álvares
05/03/2009
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009
Fragmentos Poéticos
Heleno Álvares
- poemas de Heleno Álvares publicados nos seus livros
"Desordem Contemporânea" e
"Observatório Insólito".
"DESORDEM CONTEMPORÂNEA"
Idioma Surdo
O mundo se escondeu do mundo
eu ainda procuro por mim
o poço se perdeu no fundo
o começo se acabou no meio
do fim
o Absoluto se dissolveu no Relativo
inteiro, o nada se viu em tudo
no vivo, o morto continua vivo
o Idioma para não se saber mudo
ensurdeceu seu sentido auditivo
para entender a "linguagem do ab-surdo"
A Sensatez do Absurdo
A palavra
edifica a idéia
que independe
de quem a diz
ou a cala.
O poema se faz
no silêncio da fala.
Simples Versus Complicado
Em cada gesto inconsciente
há um ato premeditado.
Em cada mentira da gente
há um segredo revelado.
Em cada passo na avenida
há um constante olhar da morte.
Em cada morte que é vivida
há uma vida bem mais forte.
Em cada nova humilhação
há uma glória derradeira.
em cada cego, o coração
há de transpor qualquer barreira.
Esporro
Que esta vida morra
que outra morte nasça
grávida de outra porra
que gere nova raça.
Qu esta raça nos gere
em uma vida fraterna
onde ninguém espere
a esperada vida eterna.
Que esta vida nos leve
a um mundo coerente
onde a morte seja breve
e a vida, permanente.
Megera
Megera
é a era
que gera
dilemas;
sistemas
humanos Megera
urbanos é a era
insanos; que gera
espera;
esfera
política
- não lítica –
e crítica;
Megera
é a era
que gera
e gira;
na ira
de gente Megera
de mente é a era
demente; que gera
problemas;
algemas
prendidas
nas vidas
pendidas.
Variações Cotidianas
digo
(quase sempre)
tudo pensado
penso
(quase nunca)
nada dizendo
sonho
(inexistindo)
sempre acordado
acordo
(em pesadelo)
quase vivendo.
Vivo
(suicidando)
já estando morto
morro
(toda vida)
de novo nascendo
renasço
(na manhã)
do mesmo aborto
amanheço
(já tarde)
a noite sendo.
Remendo
(as dores)
a vida, no retalho
costurando
(neste fiapo)
tão forte mortalha
se é distante
(a vida)
vou no atalho
se inda vivo
(ou quase)
a morte não falha.
Palavr (e) ando
aos poetas Haroldo e Augusto de Campos
Pra entender
o meu modo de cantar
há que se saber
o tempo certo de se plantar
pra não errar
na hora de colher.
Compreender
que a pa lavra
campos (H)ar(O)a (L)dos
&
Augustos
e planta
concretos sentimentos
pra colhermos
a magia
da poesia (que degusto)
na PALAVRA
Impressões
Diletas
gi
ta
is
de letras
IMPRESSÕES
letais
con-fusões
letrais
&
etecéLetras
&
coisas e tais
Verba Verbal
Vendo
Palavras
Lucro
Sentidos
Hai-Kai Para Um Tango
Con/
Cisão
rasguei o verbo
e o coração
Passarinhar
Invadir-me
todo, nas profundezas do meu ego
mergulhar às represas
de certas incertezas
que nego.
E me saber
réptil
frágil
pra logo ser
fértil
ágil
o bastante pra voar.
Seguir ao ar
enfim, na liberdade do meu vôo
percorrer meu infinito
sem reprimir o grito
que sô(u)o.
E me esquecer
réptil
frágil
pra sempre ser
fértil
ágil
o bastante pra vencer.
Sólida Saara
Tudo que é certo
- por engano -
se encontra no erro.
Em todo deserto
humano
a Saara solidão
medra seu árido berro.
Tudo que é sólido
e nada
sabe-se líquido
e certo:
vai pro fun-
do mar.
Viver
é o surfar nas marés
do verbo amar
Existir
é o preciso navegar
o mergulhar
nas ondas do desengano
sem se afogar.
Linguaginga
Nasce o meu estranho idioma
no céu acima da língua
boca de Bêja bendita Sodoma
no grito mudo de quem xinga
nas rezas e batinas de Roma
na bela que nos seduz e se vinga
na fera que açoita quem a doma
no gesto que deixa o Verbo à míngua
no verso em seu estado de coma
quando o poeta vira sua pinga
joga pro santo e o verso toma
molha a Palavra espanta mandinga
e a tudo isso o ritmo se soma
mostrando que o poema é pura ginga.
Música
para Tom Jobim
É a harmonia
poética
é o ritmo
cardíaco
é a artéria-mestra
dissonante
pleno sentimento
uníssono
a Música
é a estética
atônica
é o Tom da saudade
de uma nota só
é o desa-finado coração
NA ESTRADA
o andamento SOL-
itá-RIO
é o acorde brevíssimo
de toda uma escala
que cala
na pausa
de um contratempo
Bendita Livraria
Na bendita livraria
pra sempre me livrei
da falsa realidade
e me fiz em poesia
e ainda inventei
a minha liberdade
Na bendita livraria
ainda hoje me livro
sempre quando leio;
e desta lúcida fantasia
(sociedade em que vivo)
sou fruto de seu meio
Na bendita livraria
tenho a louca chance
de ver onde me encontro:
seja na ousada poesia
na crônica, no romance
ou num livro de conto
Visceralizada Voz
para Irene Portela
Irene Portela
anônima estrela
sinto saudades prévia e pós
de sua tristíssima bela
visceralizada voz
Seu canto é a sirene
que triste ri Irene
é o lamento é o blues
é a emoção perene
que dilacerada seduz
Na trilha do rumo norte
teve o desrrumo a dessorte
não chegou à Estação Glória
Irene
sem pedir licença passaporte
ecoa o vocal na galáxia oca
rindo e cantando nossa memória
indo até o céu de sua boca
Fragmentos De Um Poema
para Valnati Natal
O poeta só se faz
quando se frag-
menta
em emoções
raciocínios
em alegria
em tormenta
inventa sua própria regra
como desgarrada
ovelha negra
tendo a ousadia como emblema
o poeta só
se completa
quando se desintegra
na galáxia do poema
o dialeto dos dilemas
traduzindo em poemas
me salvo desse hospício
me faço Torquato
inverto o precipício
onde vôo mais alto
um outro salto
e de novo ensaio
Caio
na louca lucidez
Caio
na embriaguez
caio
me nego:
Quando me ergo
para Caion M. Natal
INVERTIDO POEMA
O Gozo Da Estética
Há uma rara raça
toda de carrança
onde só há reaça
que quando avança
é só na marcha ré.
O saudosismo me cansa
sou mais o que não é.
Por isso na gema do povo
esporro minha poética
desfaço a gênese nefasta
no gozo de outra estética.
Na linhagem do Novo
me faço iconoclasta
e quebro a forma do ovo.
Roda Gigante
A vida me solta
o mundo é solto
e de volta em volta
giro giro mas não volto
A vida me falta
o mundo se solta
a vida se salta
o mundo me volta
A vida dá volta
no mundo sou solto
a vida me escolta
o mundo é revolto.
"OBSERVATÓRIO INSÓLITO"
Dedicatória
À poesia me dedico
tentando ser literário;
só ela me torna rico
no verso onde me edifico
como seu feliz operário.
Mundo Diminuto
De minuto em minuto
de segundo em segundo
vejo o mundo de luto
e a luta pelo mundo
Diminuto, o mundo é diminuto.
Vasto é o verso profundo.
Poema do AmorTeceDor
Amor tecido
que se rasga ao vento
amor tece
a morte do pensamento
enaltecido
o amor tece a dor
e o impacto se faz mais forte
enquanto a vida é tecelã
da morte
o gozo é o artesão
do amor
este jogo do azar
e da sorte
Musa Curitibana
Eu a quero feliz
sem amarras
sem cicatriz
Eu a quero liberta
das garras
da paixão incerta
Eu a quero
Observatório 1
O poema me poeta
a palavra me lavra
o gesto me gesta
o passo me compassa
a rota me fascina
o espaço me cativa
a vida me passa
o livro me livra
a loucura me sóbria
Viver é caro
existir é raro
A estética
é o conteúdo
não estático
Arrotos de arrogância
rotos na fina elegância
A Margem e o Poeta
para Gilson Cavalcante
À esquerda
- margem do sentimento -
vê-se a sólida poética
do poeta que mergulha
na metáfora
do rio de dentro
onde elabora
seu ritmo:
afluente
de versos numa estética
em movimento
Lembrando Lupi
Em meu canto visceral
deixei vísceras no hall
do meu tédio
levei a dor ao terraço
rasguei tripas de aço
- ouvir Lupicínio
foi o único remédio
Com Você
Com você
quero dividir:
O mesmo teto
o nosso tato
o nosso afeto
o mesmo fato
o mesmo leito
o nosso abraço
o nosso jeito
o mesmo espaço
o mesmo diário
a nossa carência
a nossa vivência
o mesmo ideário
Toda Metade
Inteiro
quero seu veio
que é seu meio
minha toda metade
um quarto uma cama
um terço um pecado
uma dose de felicidade
e um gozo de quem ama
Cidade Feliz
Cidade feliz
só existe
quando o povo
não é triste
quando o Novo
na feliz cidade
nos leva à raiz
da sábia saudade
A Água e a Sede
A água me satifaz
porque a sede me existe
a alegria só me refaz
porque
felizmente
sou triste
- o que é um modo de paz
com esse riso que resiste.
II
Como tenho sede
de Existência
busco a água
de sua essência.
O Poema da Resistência
Apesar de vivente
apesar de ser
só mente
insisto
mas não sou
um Ser
Existente
apenas
Re-existo
re-existo
re-existo
resisto
Diálogo Com O Silêncio
Silêncio
se penso
você existe?
Se vejo
desejo
uma mulher
você resiste?
Silêncio
a senhora Tristeza
quando cheia de alegria
é triste ou é seu oposto
é prosa ou é poesia
é máscara ou é rosto?
- Tristeza é a Alegria
que caiu na boemia
amarrou um porre
e viu sua dupla face.
Silêncio
você sempre morre
e em seguida renasce
para em algum grito
pleno de infinito
mostrar seu disfarce.
Afinal, quando você fala?
Quando é que se insinua?
Que linguagem é a sua
se só diz quando cala?
- Minha fala
está na garganta
da pedra
está na mudez
que medra
está na sintaxe do oco
está no espaço do eco
minha voz
é o sonho do grito
o sono da laringe
fonema do infinito
o Verbo da Esfinge
John Cage e Paulinho da Viola
“Eu quero apenas (...)
silêncio por favor”
à Música, uma pausa
de um minuto
para John Cage
nos mostrar a Poesia
ao sentir cada nota
com seu valor
sacar o som que dilacera
o luto
neste mudo acorde
pleno de harmonia
Poema Conciso
Pensamento preciso:
Vida:
Lágrima e sorriso
Ruído...
... és a interferência brusca
na música
de quem te busca
em forma de harmonia.
Ruído, mate a monotonia.
Som do Surdo
Leminskaetano na mente sigo a poesia
- escrita sem chave onde me tranco –
livre pra verSaciar meu verso branco
meu verso inverso a este cine-mundo
degustando da carvalheana humorironia
a dose proética num copo sem fundo
arrancando voz da boca de todo mudo
procurando nova forma de harmonia
encontrar o som que se perdeu do surdo
O Ovo e o Oco
O ovo no oco
é o grito do eco
o eco no espaço
é o fundo do oco
onde o ovo do mundo
gira gira e não sai
desse inferno mudo
mas apesar de tudo
o mundo não cai
ai
ai
ai
.
.
A Sombra Molhada
A sombra molhada
fixa no asfalto
a imagem roubada:
ser onde me falto.
Quem rouba quem?
Sombra ou imagem?
Quem é que tem
o espelho?
O rio ou a margem?
Alegria Paradoxal
Alegria
para que sobreviva
eterna e corrosiva
o segredo apenas consiste
em uma dose de tristeza
afinal, nesse momento
a certeza
que me existe
é a de ser triste
para que meu sentimento
seja, enfim, pleno de magia:
criando minha sorte
vivendo sua morte
para, triste, morrer de alegria
Meu Quintal
A galáxia é o meu quintal.
É pra lá que vou
quando acabar esse baixo-astral
pra fazer da lua bola-de-gude
acertando as estrelas
e tudo o mais que por aqui não pude
- transar com todas as santas
num beco de saídas tantas
que não exista outro igual
sem gravidade gravitá-las
de cio
engravidá-las
no rio
do orgasmo
num louco desejo carnal.
Sacar que – dentro do contexto espacial
do Universo –
a galáxia nasce lá na cela
da célula cerebral
No Espaço Infinito
Alço um vôo
e vou ao rumo
do que sôo
no espaço
- ao som, me sumo
no som, me faço
No espaço infinito
dilacero meu grito
dor intensa sem remédio
o espaço é um labirinto
aberto, onde eu sinto
a liberdade do tédio
A Seqüência Da Sorte
A sorte
do certo
é o erro
a do corte
é o berro
a do longe
é o perto
a do monge
o deserto
a da glória
é a merda
a da vitória
é a perda
a sorte
da morte
é a vida
a da cura
a ferida
a sorte
só existe
nascida
do azar
o forte
só resiste
após fracassar
Dicotomia Vital
É assim mesmo a vida:
não há cura
quando madura a ferida.
É assim mesmo a sorte:
você cheio de vida
e a vida, cheia de morte.
É assim mesmo o azar:
quando chega o amor
já não encontra quem amar.
Chama
Era uma vez, uma voz
ela ficou muda
quando a beijei por nós.
O seu calor interno
me leva ao céu
com o fogo do inferno.
Vida de Cão
Nunca se pode dizer
que a vida é um ócio
ócio duro de roer
Triste Verdade
Nem toda verdade é triste.
Mas, quando alegre, pergunto:
“É verdade que ela existe?”
Unanimidade Nacional
Ao humor
o melhor
do Millôr
poeMADURO
poema musicado por Marcel Alez
poema MURO
poeMADURO
onde concerto
o tom sinfônico
ao som concreto
dodecafônico
A Margem e o Porre
A margem socorre
o rio
o rio só, corre.
O rio socorre
a sede
a ressaca e o porre
Ao Contista Evandro Ferreira
Queria multidão
ficou só
Cadê o povo?
- “Grogotó! Grogotó!”
Queria sensatez
mente sã
loucura chegou
gritou: “Araã! Araã!”
Pediu filosofia
ganhou cicuta.
Disse com ironia:
“Tudo bem. A vida te executa!”
Universo Dialético
Com verso
observo
meu universo
que
conservo
dialético
inverso
ao patético
Aurora Musical
Ao compositor e amigo Toninho Horta
Em seus acordes
capto a melodia
que toca
e noto
as notas
que ouço
quando ousa
na louca magia
buscar os tons
de todos os sons
plenos de poesia
eternamente intocáveis
às Palavras
e sempre abusados
e sempre conjugados
em sua harmonia
que toca
por este mundo afora
os universos
que vêm de dentro
no improviso
do sentimento que se aflora
nos acordando
nas cordas do instrumento
aos sóis musicais
de sua áurea aurora
Gozando Com a Língua Brasileira
Toda libertinagem
é uma linguagem
divertida
por isso sacaneio
com a língua no veio
metida
descubro seu seio
desfruto seu meio
gozando sua vida
Seu corpo é a fluidez
de um rio
onde navego em seu cio
na linguagem de seu afluente
na sintaxe de seu regaço
de seu regaço quente
Seu corpo é o meu pedaço
meu porto
seu corpo
é o caminho do (uni)verso que traço
seu ventre
é o gozo a liberdade de onde renasço
Dilema da Vida
O dilema é parte
mas par-
-te a vida
a vida que é arte
da qual não me farto
vi-vendo-a entre o parto
o encontro e a partida
Face A Uma Face
Lágrima
dor e rima
lâmina
ânima
que se vê clara
mente
em sua cara
que se cora
se decora
de coração
que se mascara
na ilusão
do disfarce
e se escancara
e se dilacera
na sua vera
face.
Eclipse
Lâmina
mina sangue
olhar mina
o luar
que a navalha apaga
ao meio
no meio da retina
Lâmina
o corte que afaga
ao meio
o luar
no olhar da menina
Nesta imagem visceral e crua
a navalha deixa de ser cruel
ao eclipsar o olho no branco da lua
numa visão claramente poética
entre a objetiva e a estética
da ótica surreal de Buñuel
Labirinto do Tempo
Jamais deixarei
quem já fui
apenas me eternizo
no quem serei
o tempo a vida dilui
o ontem me possui
no hoje nada posso
e tudo destruo
no amanhã destroço
o futuro e logo me possuo
me restauro e me concluo
brincando com a infância
do passado
que é esse menino
malandro traquino
chamado futuro
que se esconde à distância
no labirinto do tempo
onde o sigo todo dia no escuro
onde me perco e me procuro
A Caneta
A caneta
inventa
uma letra
que quebra
o silêncio do papel
que se abre
às Palavras
feito par-de-pernas
das garotas do bordel
cortesãs são as palavras
com as quais fecundamos
o desejo do que somos
na teoria
com elas esporramos
a nossa poesia
O Nada
O nada não
inexiste
o nada é
tudo que existe
o nada é
um fato
que insiste;
pra nada ser
um Ser
já é bastante
dois
a redundância do nada
transando a esmo
na gozação de si mesmo
Tema De Poeta
Sem ter o que fazer
ele inventou o nada
e do nada fez um verso
e já começou a rir
ao ver que ser nada
nada tem que existir
feito o verso que se verteu
ao ventre onde desnasceu
porque já existe
para ele este nada
que tanto insiste
em forma de verso
é tudo que o completa
é o nada inverso
com sua dialética
é a sua essência
é a sua estética
é a sua existência
insistência predileta
no mundo deste nada
que se destina a ser
o universo do poeta
Feliz Cidade
Só as palavras me revelam
todos os sentidos me dizem
sentimentos me criam sentido
só nas palavras
me significo
por isso sigo
as trilhas das letras
que criam palavra que
cria frase que cria verso que
‘ crio
que me cria humano
universo
onde me rio onde
me odeio
onde me crio
me creio enigma onde
me decifro esfinge
fabuloso é o mundo
que não finge
é o imaginário vero
o prazer do ser que gero
quando a tristeza se deleta
na feliz cidade onde a gente
lê e tira a vida de letra
Antagonismos
Nossos desencontrários
desfeitos afetos
abstratos concretos
des-sentimentos vividos
des-pensados sentidos
des-marcados horários
no Motel Existência
onde vou comer a Vida
gozando a sua essência
Meu Melhor Erro
Ser humano é meu melhor erro
é minha imperfeição preferida
é o perfeito descuido da vida
na existência do eterno enterro
minha vida é conexão sem nexo
é o imperfeito que se fez complexo
é o humano que de tão imperfeito
gerou a qualidade na porra do defeito
Vida Não Preservada
Existir não é um verbo preciso
mas sim relativo.
Sei que viver é muito perigoso
mas, pior é ser gozado no preservativo
A cultura da nova-rica
é elevar Picasso
e desconhecer Guernica
O Dia Inaugura O Sol
O dia inaugura o sol
o sol, a esperança
que a gente não cansa
de esperar
e quando chega, já insatisfeito
vem rarefeita
quanto mais se arruma
menos ela se ajeita.
Neste panorama
amanheço
envileço
envelheço o velho
me faço iconoclasta
quebro o espelho de narciso
na imagem afogada do lago
de um cínico sinistro sorriso
que apedrejo e jamais afago.
Não inflo meu ego.
Quero é a visão do cego
não o olhar contemplativo
mas, sim, corrosivo
de quem vive o motivo
de sua existência.
Com toda paz
- ciência semeada por Jó.
Com toda paciência
de quem vive só.
Vejo meu profundo
mundo
externo
onde o opaco é o brilho
e a liberdade do caudilho
nossa prisão nosso inferno.
Observatório Da Margem
Assisto ao universo do rio
rio de seu mundo novelho
que sempre corre macio
feito meu eterno espelho
nele tudo segue passivo
sem saber de seu rumo
em seu mundo sem objetivo
em que jamais me resumo.
Este rio segue sem rotas
se mete a mar
deságua seu plano
quando rebeldes gotas
cismam em criar
um mundoceano
mergulhando nas águas do Humano
de quem ousa e ousará
ser gota
pra afogar o rio
desafiar todo desafio
pois o rio é o choro
que se es-gotará.
Será o rio que me reflete
ou eu que o reflito?
Que imagem se repete
no espelhar desse conflito?
No Livro
No livro me prendo
me prendo e me livro;
no livro me vendo
vejo que ainda vivo.
No livro me faço
Ser; sou seu parceiro.
Ele é meu pedaço
meu pedaço inteiro.
No livro labirinto
a saída que possuo;
me perco e me sinto
no verso que concluo.
Auto Retrato
Minha fisionomia carrega
o ser pleno do amanhã
ela se expõe e se nega
denuncia e se entrega
ao mundo onde fez
sua loucura sã
de sensatez
Heleno Álvares
- poemas de Heleno Álvares publicados nos seus livros
"Desordem Contemporânea" e
"Observatório Insólito".
"DESORDEM CONTEMPORÂNEA"
Idioma Surdo
O mundo se escondeu do mundo
eu ainda procuro por mim
o poço se perdeu no fundo
o começo se acabou no meio
do fim
o Absoluto se dissolveu no Relativo
inteiro, o nada se viu em tudo
no vivo, o morto continua vivo
o Idioma para não se saber mudo
ensurdeceu seu sentido auditivo
para entender a "linguagem do ab-surdo"
A Sensatez do Absurdo
A palavra
edifica a idéia
que independe
de quem a diz
ou a cala.
O poema se faz
no silêncio da fala.
Simples Versus Complicado
Em cada gesto inconsciente
há um ato premeditado.
Em cada mentira da gente
há um segredo revelado.
Em cada passo na avenida
há um constante olhar da morte.
Em cada morte que é vivida
há uma vida bem mais forte.
Em cada nova humilhação
há uma glória derradeira.
em cada cego, o coração
há de transpor qualquer barreira.
Esporro
Que esta vida morra
que outra morte nasça
grávida de outra porra
que gere nova raça.
Qu esta raça nos gere
em uma vida fraterna
onde ninguém espere
a esperada vida eterna.
Que esta vida nos leve
a um mundo coerente
onde a morte seja breve
e a vida, permanente.
Megera
Megera
é a era
que gera
dilemas;
sistemas
humanos Megera
urbanos é a era
insanos; que gera
espera;
esfera
política
- não lítica –
e crítica;
Megera
é a era
que gera
e gira;
na ira
de gente Megera
de mente é a era
demente; que gera
problemas;
algemas
prendidas
nas vidas
pendidas.
Variações Cotidianas
digo
(quase sempre)
tudo pensado
penso
(quase nunca)
nada dizendo
sonho
(inexistindo)
sempre acordado
acordo
(em pesadelo)
quase vivendo.
Vivo
(suicidando)
já estando morto
morro
(toda vida)
de novo nascendo
renasço
(na manhã)
do mesmo aborto
amanheço
(já tarde)
a noite sendo.
Remendo
(as dores)
a vida, no retalho
costurando
(neste fiapo)
tão forte mortalha
se é distante
(a vida)
vou no atalho
se inda vivo
(ou quase)
a morte não falha.
Palavr (e) ando
aos poetas Haroldo e Augusto de Campos
Pra entender
o meu modo de cantar
há que se saber
o tempo certo de se plantar
pra não errar
na hora de colher.
Compreender
que a pa lavra
campos (H)ar(O)a (L)dos
&
Augustos
e planta
concretos sentimentos
pra colhermos
a magia
da poesia (que degusto)
na PALAVRA
Impressões
Diletas
gi
ta
is
de letras
IMPRESSÕES
letais
con-fusões
letrais
&
etecéLetras
&
coisas e tais
Verba Verbal
Vendo
Palavras
Lucro
Sentidos
Hai-Kai Para Um Tango
Con/
Cisão
rasguei o verbo
e o coração
Passarinhar
Invadir-me
todo, nas profundezas do meu ego
mergulhar às represas
de certas incertezas
que nego.
E me saber
réptil
frágil
pra logo ser
fértil
ágil
o bastante pra voar.
Seguir ao ar
enfim, na liberdade do meu vôo
percorrer meu infinito
sem reprimir o grito
que sô(u)o.
E me esquecer
réptil
frágil
pra sempre ser
fértil
ágil
o bastante pra vencer.
Sólida Saara
Tudo que é certo
- por engano -
se encontra no erro.
Em todo deserto
humano
a Saara solidão
medra seu árido berro.
Tudo que é sólido
e nada
sabe-se líquido
e certo:
vai pro fun-
do mar.
Viver
é o surfar nas marés
do verbo amar
Existir
é o preciso navegar
o mergulhar
nas ondas do desengano
sem se afogar.
Linguaginga
Nasce o meu estranho idioma
no céu acima da língua
boca de Bêja bendita Sodoma
no grito mudo de quem xinga
nas rezas e batinas de Roma
na bela que nos seduz e se vinga
na fera que açoita quem a doma
no gesto que deixa o Verbo à míngua
no verso em seu estado de coma
quando o poeta vira sua pinga
joga pro santo e o verso toma
molha a Palavra espanta mandinga
e a tudo isso o ritmo se soma
mostrando que o poema é pura ginga.
Música
para Tom Jobim
É a harmonia
poética
é o ritmo
cardíaco
é a artéria-mestra
dissonante
pleno sentimento
uníssono
a Música
é a estética
atônica
é o Tom da saudade
de uma nota só
é o desa-finado coração
NA ESTRADA
o andamento SOL-
itá-RIO
é o acorde brevíssimo
de toda uma escala
que cala
na pausa
de um contratempo
Bendita Livraria
Na bendita livraria
pra sempre me livrei
da falsa realidade
e me fiz em poesia
e ainda inventei
a minha liberdade
Na bendita livraria
ainda hoje me livro
sempre quando leio;
e desta lúcida fantasia
(sociedade em que vivo)
sou fruto de seu meio
Na bendita livraria
tenho a louca chance
de ver onde me encontro:
seja na ousada poesia
na crônica, no romance
ou num livro de conto
Visceralizada Voz
para Irene Portela
Irene Portela
anônima estrela
sinto saudades prévia e pós
de sua tristíssima bela
visceralizada voz
Seu canto é a sirene
que triste ri Irene
é o lamento é o blues
é a emoção perene
que dilacerada seduz
Na trilha do rumo norte
teve o desrrumo a dessorte
não chegou à Estação Glória
Irene
sem pedir licença passaporte
ecoa o vocal na galáxia oca
rindo e cantando nossa memória
indo até o céu de sua boca
Fragmentos De Um Poema
para Valnati Natal
O poeta só se faz
quando se frag-
menta
em emoções
raciocínios
em alegria
em tormenta
inventa sua própria regra
como desgarrada
ovelha negra
tendo a ousadia como emblema
o poeta só
se completa
quando se desintegra
na galáxia do poema
o dialeto dos dilemas
traduzindo em poemas
me salvo desse hospício
me faço Torquato
inverto o precipício
onde vôo mais alto
um outro salto
e de novo ensaio
Caio
na louca lucidez
Caio
na embriaguez
caio
me nego:
Quando me ergo
para Caion M. Natal
INVERTIDO POEMA
O Gozo Da Estética
Há uma rara raça
toda de carrança
onde só há reaça
que quando avança
é só na marcha ré.
O saudosismo me cansa
sou mais o que não é.
Por isso na gema do povo
esporro minha poética
desfaço a gênese nefasta
no gozo de outra estética.
Na linhagem do Novo
me faço iconoclasta
e quebro a forma do ovo.
Roda Gigante
A vida me solta
o mundo é solto
e de volta em volta
giro giro mas não volto
A vida me falta
o mundo se solta
a vida se salta
o mundo me volta
A vida dá volta
no mundo sou solto
a vida me escolta
o mundo é revolto.
"OBSERVATÓRIO INSÓLITO"
Dedicatória
À poesia me dedico
tentando ser literário;
só ela me torna rico
no verso onde me edifico
como seu feliz operário.
Mundo Diminuto
De minuto em minuto
de segundo em segundo
vejo o mundo de luto
e a luta pelo mundo
Diminuto, o mundo é diminuto.
Vasto é o verso profundo.
Poema do AmorTeceDor
Amor tecido
que se rasga ao vento
amor tece
a morte do pensamento
enaltecido
o amor tece a dor
e o impacto se faz mais forte
enquanto a vida é tecelã
da morte
o gozo é o artesão
do amor
este jogo do azar
e da sorte
Musa Curitibana
Eu a quero feliz
sem amarras
sem cicatriz
Eu a quero liberta
das garras
da paixão incerta
Eu a quero
Observatório 1
O poema me poeta
a palavra me lavra
o gesto me gesta
o passo me compassa
a rota me fascina
o espaço me cativa
a vida me passa
o livro me livra
a loucura me sóbria
Viver é caro
existir é raro
A estética
é o conteúdo
não estático
Arrotos de arrogância
rotos na fina elegância
A Margem e o Poeta
para Gilson Cavalcante
À esquerda
- margem do sentimento -
vê-se a sólida poética
do poeta que mergulha
na metáfora
do rio de dentro
onde elabora
seu ritmo:
afluente
de versos numa estética
em movimento
Lembrando Lupi
Em meu canto visceral
deixei vísceras no hall
do meu tédio
levei a dor ao terraço
rasguei tripas de aço
- ouvir Lupicínio
foi o único remédio
Com Você
Com você
quero dividir:
O mesmo teto
o nosso tato
o nosso afeto
o mesmo fato
o mesmo leito
o nosso abraço
o nosso jeito
o mesmo espaço
o mesmo diário
a nossa carência
a nossa vivência
o mesmo ideário
Toda Metade
Inteiro
quero seu veio
que é seu meio
minha toda metade
um quarto uma cama
um terço um pecado
uma dose de felicidade
e um gozo de quem ama
Cidade Feliz
Cidade feliz
só existe
quando o povo
não é triste
quando o Novo
na feliz cidade
nos leva à raiz
da sábia saudade
A Água e a Sede
A água me satifaz
porque a sede me existe
a alegria só me refaz
porque
felizmente
sou triste
- o que é um modo de paz
com esse riso que resiste.
II
Como tenho sede
de Existência
busco a água
de sua essência.
O Poema da Resistência
Apesar de vivente
apesar de ser
só mente
insisto
mas não sou
um Ser
Existente
apenas
Re-existo
re-existo
re-existo
resisto
Diálogo Com O Silêncio
Silêncio
se penso
você existe?
Se vejo
desejo
uma mulher
você resiste?
Silêncio
a senhora Tristeza
quando cheia de alegria
é triste ou é seu oposto
é prosa ou é poesia
é máscara ou é rosto?
- Tristeza é a Alegria
que caiu na boemia
amarrou um porre
e viu sua dupla face.
Silêncio
você sempre morre
e em seguida renasce
para em algum grito
pleno de infinito
mostrar seu disfarce.
Afinal, quando você fala?
Quando é que se insinua?
Que linguagem é a sua
se só diz quando cala?
- Minha fala
está na garganta
da pedra
está na mudez
que medra
está na sintaxe do oco
está no espaço do eco
minha voz
é o sonho do grito
o sono da laringe
fonema do infinito
o Verbo da Esfinge
John Cage e Paulinho da Viola
“Eu quero apenas (...)
silêncio por favor”
à Música, uma pausa
de um minuto
para John Cage
nos mostrar a Poesia
ao sentir cada nota
com seu valor
sacar o som que dilacera
o luto
neste mudo acorde
pleno de harmonia
Poema Conciso
Pensamento preciso:
Vida:
Lágrima e sorriso
Ruído...
... és a interferência brusca
na música
de quem te busca
em forma de harmonia.
Ruído, mate a monotonia.
Som do Surdo
Leminskaetano na mente sigo a poesia
- escrita sem chave onde me tranco –
livre pra verSaciar meu verso branco
meu verso inverso a este cine-mundo
degustando da carvalheana humorironia
a dose proética num copo sem fundo
arrancando voz da boca de todo mudo
procurando nova forma de harmonia
encontrar o som que se perdeu do surdo
O Ovo e o Oco
O ovo no oco
é o grito do eco
o eco no espaço
é o fundo do oco
onde o ovo do mundo
gira gira e não sai
desse inferno mudo
mas apesar de tudo
o mundo não cai
ai
ai
ai
.
.
A Sombra Molhada
A sombra molhada
fixa no asfalto
a imagem roubada:
ser onde me falto.
Quem rouba quem?
Sombra ou imagem?
Quem é que tem
o espelho?
O rio ou a margem?
Alegria Paradoxal
Alegria
para que sobreviva
eterna e corrosiva
o segredo apenas consiste
em uma dose de tristeza
afinal, nesse momento
a certeza
que me existe
é a de ser triste
para que meu sentimento
seja, enfim, pleno de magia:
criando minha sorte
vivendo sua morte
para, triste, morrer de alegria
Meu Quintal
A galáxia é o meu quintal.
É pra lá que vou
quando acabar esse baixo-astral
pra fazer da lua bola-de-gude
acertando as estrelas
e tudo o mais que por aqui não pude
- transar com todas as santas
num beco de saídas tantas
que não exista outro igual
sem gravidade gravitá-las
de cio
engravidá-las
no rio
do orgasmo
num louco desejo carnal.
Sacar que – dentro do contexto espacial
do Universo –
a galáxia nasce lá na cela
da célula cerebral
No Espaço Infinito
Alço um vôo
e vou ao rumo
do que sôo
no espaço
- ao som, me sumo
no som, me faço
No espaço infinito
dilacero meu grito
dor intensa sem remédio
o espaço é um labirinto
aberto, onde eu sinto
a liberdade do tédio
A Seqüência Da Sorte
A sorte
do certo
é o erro
a do corte
é o berro
a do longe
é o perto
a do monge
o deserto
a da glória
é a merda
a da vitória
é a perda
a sorte
da morte
é a vida
a da cura
a ferida
a sorte
só existe
nascida
do azar
o forte
só resiste
após fracassar
Dicotomia Vital
É assim mesmo a vida:
não há cura
quando madura a ferida.
É assim mesmo a sorte:
você cheio de vida
e a vida, cheia de morte.
É assim mesmo o azar:
quando chega o amor
já não encontra quem amar.
Chama
Era uma vez, uma voz
ela ficou muda
quando a beijei por nós.
O seu calor interno
me leva ao céu
com o fogo do inferno.
Vida de Cão
Nunca se pode dizer
que a vida é um ócio
ócio duro de roer
Triste Verdade
Nem toda verdade é triste.
Mas, quando alegre, pergunto:
“É verdade que ela existe?”
Unanimidade Nacional
Ao humor
o melhor
do Millôr
poeMADURO
poema musicado por Marcel Alez
poema MURO
poeMADURO
onde concerto
o tom sinfônico
ao som concreto
dodecafônico
A Margem e o Porre
A margem socorre
o rio
o rio só, corre.
O rio socorre
a sede
a ressaca e o porre
Ao Contista Evandro Ferreira
Queria multidão
ficou só
Cadê o povo?
- “Grogotó! Grogotó!”
Queria sensatez
mente sã
loucura chegou
gritou: “Araã! Araã!”
Pediu filosofia
ganhou cicuta.
Disse com ironia:
“Tudo bem. A vida te executa!”
Universo Dialético
Com verso
observo
meu universo
que
conservo
dialético
inverso
ao patético
Aurora Musical
Ao compositor e amigo Toninho Horta
Em seus acordes
capto a melodia
que toca
e noto
as notas
que ouço
quando ousa
na louca magia
buscar os tons
de todos os sons
plenos de poesia
eternamente intocáveis
às Palavras
e sempre abusados
e sempre conjugados
em sua harmonia
que toca
por este mundo afora
os universos
que vêm de dentro
no improviso
do sentimento que se aflora
nos acordando
nas cordas do instrumento
aos sóis musicais
de sua áurea aurora
Gozando Com a Língua Brasileira
Toda libertinagem
é uma linguagem
divertida
por isso sacaneio
com a língua no veio
metida
descubro seu seio
desfruto seu meio
gozando sua vida
Seu corpo é a fluidez
de um rio
onde navego em seu cio
na linguagem de seu afluente
na sintaxe de seu regaço
de seu regaço quente
Seu corpo é o meu pedaço
meu porto
seu corpo
é o caminho do (uni)verso que traço
seu ventre
é o gozo a liberdade de onde renasço
Dilema da Vida
O dilema é parte
mas par-
-te a vida
a vida que é arte
da qual não me farto
vi-vendo-a entre o parto
o encontro e a partida
Face A Uma Face
Lágrima
dor e rima
lâmina
ânima
que se vê clara
mente
em sua cara
que se cora
se decora
de coração
que se mascara
na ilusão
do disfarce
e se escancara
e se dilacera
na sua vera
face.
Eclipse
Lâmina
mina sangue
olhar mina
o luar
que a navalha apaga
ao meio
no meio da retina
Lâmina
o corte que afaga
ao meio
o luar
no olhar da menina
Nesta imagem visceral e crua
a navalha deixa de ser cruel
ao eclipsar o olho no branco da lua
numa visão claramente poética
entre a objetiva e a estética
da ótica surreal de Buñuel
Labirinto do Tempo
Jamais deixarei
quem já fui
apenas me eternizo
no quem serei
o tempo a vida dilui
o ontem me possui
no hoje nada posso
e tudo destruo
no amanhã destroço
o futuro e logo me possuo
me restauro e me concluo
brincando com a infância
do passado
que é esse menino
malandro traquino
chamado futuro
que se esconde à distância
no labirinto do tempo
onde o sigo todo dia no escuro
onde me perco e me procuro
A Caneta
A caneta
inventa
uma letra
que quebra
o silêncio do papel
que se abre
às Palavras
feito par-de-pernas
das garotas do bordel
cortesãs são as palavras
com as quais fecundamos
o desejo do que somos
na teoria
com elas esporramos
a nossa poesia
O Nada
O nada não
inexiste
o nada é
tudo que existe
o nada é
um fato
que insiste;
pra nada ser
um Ser
já é bastante
dois
a redundância do nada
transando a esmo
na gozação de si mesmo
Tema De Poeta
Sem ter o que fazer
ele inventou o nada
e do nada fez um verso
e já começou a rir
ao ver que ser nada
nada tem que existir
feito o verso que se verteu
ao ventre onde desnasceu
porque já existe
para ele este nada
que tanto insiste
em forma de verso
é tudo que o completa
é o nada inverso
com sua dialética
é a sua essência
é a sua estética
é a sua existência
insistência predileta
no mundo deste nada
que se destina a ser
o universo do poeta
Feliz Cidade
Só as palavras me revelam
todos os sentidos me dizem
sentimentos me criam sentido
só nas palavras
me significo
por isso sigo
as trilhas das letras
que criam palavra que
cria frase que cria verso que
‘ crio
que me cria humano
universo
onde me rio onde
me odeio
onde me crio
me creio enigma onde
me decifro esfinge
fabuloso é o mundo
que não finge
é o imaginário vero
o prazer do ser que gero
quando a tristeza se deleta
na feliz cidade onde a gente
lê e tira a vida de letra
Antagonismos
Nossos desencontrários
desfeitos afetos
abstratos concretos
des-sentimentos vividos
des-pensados sentidos
des-marcados horários
no Motel Existência
onde vou comer a Vida
gozando a sua essência
Meu Melhor Erro
Ser humano é meu melhor erro
é minha imperfeição preferida
é o perfeito descuido da vida
na existência do eterno enterro
minha vida é conexão sem nexo
é o imperfeito que se fez complexo
é o humano que de tão imperfeito
gerou a qualidade na porra do defeito
Vida Não Preservada
Existir não é um verbo preciso
mas sim relativo.
Sei que viver é muito perigoso
mas, pior é ser gozado no preservativo
A cultura da nova-rica
é elevar Picasso
e desconhecer Guernica
O Dia Inaugura O Sol
O dia inaugura o sol
o sol, a esperança
que a gente não cansa
de esperar
e quando chega, já insatisfeito
vem rarefeita
quanto mais se arruma
menos ela se ajeita.
Neste panorama
amanheço
envileço
envelheço o velho
me faço iconoclasta
quebro o espelho de narciso
na imagem afogada do lago
de um cínico sinistro sorriso
que apedrejo e jamais afago.
Não inflo meu ego.
Quero é a visão do cego
não o olhar contemplativo
mas, sim, corrosivo
de quem vive o motivo
de sua existência.
Com toda paz
- ciência semeada por Jó.
Com toda paciência
de quem vive só.
Vejo meu profundo
mundo
externo
onde o opaco é o brilho
e a liberdade do caudilho
nossa prisão nosso inferno.
Observatório Da Margem
Assisto ao universo do rio
rio de seu mundo novelho
que sempre corre macio
feito meu eterno espelho
nele tudo segue passivo
sem saber de seu rumo
em seu mundo sem objetivo
em que jamais me resumo.
Este rio segue sem rotas
se mete a mar
deságua seu plano
quando rebeldes gotas
cismam em criar
um mundoceano
mergulhando nas águas do Humano
de quem ousa e ousará
ser gota
pra afogar o rio
desafiar todo desafio
pois o rio é o choro
que se es-gotará.
Será o rio que me reflete
ou eu que o reflito?
Que imagem se repete
no espelhar desse conflito?
No Livro
No livro me prendo
me prendo e me livro;
no livro me vendo
vejo que ainda vivo.
No livro me faço
Ser; sou seu parceiro.
Ele é meu pedaço
meu pedaço inteiro.
No livro labirinto
a saída que possuo;
me perco e me sinto
no verso que concluo.
Auto Retrato
Minha fisionomia carrega
o ser pleno do amanhã
ela se expõe e se nega
denuncia e se entrega
ao mundo onde fez
sua loucura sã
de sensatez
Fragmentos Poéticos
Heleno Álvares
- poemas inéditos e seleção poética
organizada pelo autor -
"DESORDEM CONTEMPORÂNEA"
Idioma Surdo
O mundo se escondeu do mundo
eu ainda procuro por mim
o poço se perdeu no fundo
o começo se acabou no meio
do fim
o Absoluto se dissolveu no Relativo
inteiro, o nada se viu em tudo
no vivo, o morto continua vivo
o Idioma para não se saber mudo
ensurdeceu seu sentido auditivo
para entender a "linguagem do ab-surdo"
A Sensatez do Absurdo
A palavra
edifica a idéia
que independe
de quem a diz
ou a cala.
O poema se faz
no silêncio da fala.
Simples Versus Complicado
Em cada gesto inconsciente
há um ato premeditado.
Em cada mentira da gente
há um segredo revelado.
Em cada passo na avenida
há um constante olhar da morte.
Em cada morte que é vivida
há uma vida bem mais forte.
Em cada nova humilhação
há uma glória derradeira.
em cada cego, o coração
há de transpor qualquer barreira.
Esporro
Que esta vida morra
que outra morte nasça
grávida de outra porra
que gere nova raça.
Qu esta raça nos gere
em uma vida fraterna
onde ninguém espere
a esperada vida eterna.
Que esta vida nos leve
a um mundo coerente
onde a morte seja breve
e a vida, permanente.
Megera
Megera
é a era
que gera
dilemas;
sistemas
humanos Megera
urbanos é a era
insanos; que gera
espera;
esfera
política
- não lítica –
e crítica;
Megera
é a era
que gera
e gira;
na ira
de gente Megera
de mente é a era
demente; que gera
problemas;
algemas
prendidas
nas vidas
pendidas.
Variações Cotidianas
digo
(quase sempre)
tudo pensado
penso
(quase nunca)
nada dizendo
sonho
(inexistindo)
sempre acordado
acordo
(em pesadelo)
quase vivendo.
Vivo
(suicidando)
já estando morto
morro
(toda vida)
de novo nascendo
renasço
(na manhã)
do mesmo aborto
amanheço
(já tarde)
a noite sendo.
Remendo
(as dores)
a vida, no retalho
costurando
(neste fiapo)
tão forte mortalha
se é distante
(a vida)
vou no atalho
se inda vivo
(ou quase)
a morte não falha.
Palavr (e) ando
aos poetas Haroldo e Augusto de Campos
Pra entender
o meu modo de cantar
há que se saber
o tempo certo de se plantar
pra não errar
na hora de colher.
Compreender
que a pa lavra
campos (H)ar(O)a (L)dos
&
Augustos
e planta
concretos sentimentos
pra colhermos
a magia
da poesia (que degusto)
na PALAVRA
Impressões
Diletas
gi
ta
is
de letras
IMPRESSÕES
letais
con-fusões
letrais
&
etecéLetras
&
coisas e tais
Verba Verbal
Vendo
Palavras
Lucro
Sentidos
Hai-Kai Para Um Tango
Con/
Cisão
rasguei o verbo
e o coração
Passarinhar
Invadir-me
todo, nas profundezas do meu ego
mergulhar às represas
de certas incertezas
que nego.
E me saber
réptil
frágil
pra logo ser
fértil
ágil
o bastante pra voar.
Seguir ao ar
enfim, na liberdade do meu vôo
percorrer meu infinito
sem reprimir o grito
que sô(u)o.
E me esquecer
réptil
frágil
pra sempre ser
fértil
ágil
o bastante pra vencer.
Sólida Saara
Tudo que é certo
- por engano -
se encontra no erro.
Em todo deserto
humano
a Saara solidão
medra seu árido berro.
Tudo que é sólido
e nada
sabe-se líquido
e certo:
vai pro fun-
do mar.
Viver
é o surfar nas marés
do verbo amar
Existir
é o preciso navegar
o mergulhar
nas ondas do desengano
sem se afogar.
Linguaginga
Nasce o meu estranho idioma
no céu acima da língua
boca de Bêja bendita Sodoma
no grito mudo de quem xinga
nas rezas e batinas de Roma
na bela que nos seduz e se vinga
na fera que açoita quem a doma
no gesto que deixa o Verbo à míngua
no verso em seu estado de coma
quando o poeta vira sua pinga
joga pro santo e o verso toma
molha a Palavra espanta mandinga
e a tudo isso o ritmo se soma
mostrando que o poema é pura ginga.
Música
para Tom Jobim
É a harmonia
poética
é o ritmo
cardíaco
é a artéria-mestra
dissonante
pleno sentimento
uníssono
a Música
é a estética
atônica
é o Tom da saudade
de uma nota só
é o desa-finado coração
NA ESTRADA
o andamento SOL-
itá-RIO
é o acorde brevíssimo
de toda uma escala
que cala
na pausa
de um contratempo
Bendita Livraria
Na bendita livraria
pra sempre me livrei
da falsa realidade
e me fiz em poesia
e ainda inventei
a minha liberdade
Na bendita livraria
ainda hoje me livro
sempre quando leio;
e desta lúcida fantasia
(sociedade em que vivo)
sou fruto de seu meio
Na bendita livraria
tenho a louca chance
de ver onde me encontro:
seja na ousada poesia
na crônica, no romance
ou num livro de conto
Visceralizada Voz
para Irene Portela
Irene Portela
anônima estrela
sinto saudades prévia e pós
de sua tristíssima bela
visceralizada voz
Seu canto é a sirene
que triste ri Irene
é o lamento é o blues
é a emoção perene
que dilacerada seduz
Na trilha do rumo norte
teve o desrrumo a dessorte
não chegou à Estação Glória
Irene
sem pedir licença passaporte
ecoa o vocal na galáxia oca
rindo e cantando nossa memória
indo até o céu de sua boca
Fragmentos De Um Poema
para Valnati Natal
O poeta só se faz
quando se frag-
menta
em emoções
raciocínios
em alegria
em tormenta
inventa sua própria regra
como desgarrada
ovelha negra
tendo a ousadia como emblema
o poeta só
se completa
quando se desintegra
na galáxia do poema
o dialeto dos dilemas
traduzindo em poemas
me salvo desse hospício
me faço Torquato
inverto o precipício
onde vôo mais alto
um outro salto
e de novo ensaio
Caio
na louca lucidez
Caio
na embriaguez
caio
me nego:
Quando me ergo
para Caion M. Natal
INVERTIDO POEMA
O Gozo Da Estética
Há uma rara raça
toda de carrança
onde só há reaça
que quando avança
é só na marcha ré.
O saudosismo me cansa
sou mais o que não é.
Por isso na gema do povo
esporro minha poética
desfaço a gênese nefasta
no gozo de outra estética.
Na linhagem do Novo
me faço iconoclasta
e quebro a forma do ovo.
Roda Gigante
A vida me solta
o mundo é solto
e de volta em volta
giro giro mas não volto
A vida me falta
o mundo se solta
a vida se salta
o mundo me volta
A vida dá volta
no mundo sou solto
a vida me escolta
o mundo é revolto.
"OBSERVATÓRIO INSÓLITO"
Dedicatória
À poesia me dedico
tentando ser literário;
só ela me torna rico
no verso onde me edifico
como seu feliz operário.
Mundo Diminuto
De minuto em minuto
de segundo em segundo
vejo o mundo de luto
e a luta pelo mundo
Diminuto, o mundo é diminuto.
Vasto é o verso profundo.
Poema do AmorTeceDor
Amor tecido
que se rasga ao vento
amor tece
a morte do pensamento
enaltecido
o amor tece a dor
e o impacto se faz mais forte
enquanto a vida é tecelã
da morte
o gozo é o artesão
do amor
este jogo do azar
e da sorte
Musa Curitibana
Eu a quero feliz
sem amarras
sem cicatriz
Eu a quero liberta
das garras
da paixão incerta
Eu a quero
Observatório 1
O poema me poeta
a palavra me lavra
o gesto me gesta
o passo me compassa
a rota me fascina
o espaço me cativa
a vida me passa
o livro me livra
a loucura me sóbria
Viver é caro
existir é raro
A estética
é o conteúdo
não estático
Arrotos de arrogância
rotos na fina elegância
A Margem e o Poeta
para Gilson Cavalcante
À esquerda
- margem do sentimento -
vê-se a sólida poética
do poeta que mergulha
na metáfora
do rio de dentro
onde elabora
seu ritmo:
afluente
de versos numa estética
em movimento
Lembrando Lupi
Em meu canto visceral
deixei vísceras no hall
do meu tédio
levei a dor ao terraço
rasguei tripas de aço
- ouvir Lupicínio
foi o único remédio
Com Você
Com você
quero dividir:
O mesmo teto
o nosso tato
o nosso afeto
o mesmo fato
o mesmo leito
o nosso abraço
o nosso jeito
o mesmo espaço
o mesmo diário
a nossa carência
a nossa vivência
o mesmo ideário
Toda Metade
Inteiro
quero seu veio
que é seu meio
minha toda metade
um quarto uma cama
um terço um pecado
uma dose de felicidade
e um gozo de quem ama
Cidade Feliz
Cidade feliz
só existe
quando o povo
não é triste
quando o Novo
na feliz cidade
nos leva à raiz
da sábia saudade
A Água e a Sede
A água me satifaz
porque a sede me existe
a alegria só me refaz
porque
felizmente
sou triste
- o que é um modo de paz
com esse riso que resiste.
II
Como tenho sede
de Existência
busco a água
de sua essência.
O Poema da Resistência
Apesar de vivente
apesar de ser
só mente
insisto
mas não sou
um Ser
Existente
apenas
Re-existo
re-existo
re-existo
resisto
Diálogo Com O Silêncio
Silêncio
se penso
você existe?
Se vejo
desejo
uma mulher
você resiste?
Silêncio
a senhora Tristeza
quando cheia de alegria
é triste ou é seu oposto
é prosa ou é poesia
é máscara ou é rosto?
- Tristeza é a Alegria
que caiu na boemia
amarrou um porre
e viu sua dupla face.
Silêncio
você sempre morre
e em seguida renasce
para em algum grito
pleno de infinito
mostrar seu disfarce.
Afinal, quando você fala?
Quando é que se insinua?
Que linguagem é a sua
se só diz quando cala?
- Minha fala
está na garganta
da pedra
está na mudez
que medra
está na sintaxe do oco
está no espaço do eco
minha voz
é o sonho do grito
o sono da laringe
fonema do infinito
o Verbo da Esfinge
John Cage e Paulinho da Viola
“Eu quero apenas (...)
silêncio por favor”
à Música, uma pausa
de um minuto
para John Cage
nos mostrar a Poesia
ao sentir cada nota
com seu valor
sacar o som que dilacera
o luto
neste mudo acorde
pleno de harmonia
Poema Conciso
Pensamento preciso:
Vida:
Lágrima e sorriso
Ruído...
... és a interferência brusca
na música
de quem te busca
em forma de harmonia.
Ruído, mate a monotonia.
Som do Surdo
Leminskaetano na mente sigo a poesia
- escrita sem chave onde me tranco –
livre pra verSaciar meu verso branco
meu verso inverso a este cine-mundo
degustando da carvalheana humorironia
a dose proética num copo sem fundo
arrancando voz da boca de todo mudo
procurando nova forma de harmonia
encontrar o som que se perdeu do surdo
O Ovo e o Oco
O ovo no oco
é o grito do eco
o eco no espaço
é o fundo do oco
onde o ovo do mundo
gira gira e não sai
desse inferno mudo
mas apesar de tudo
o mundo não cai
ai
ai
ai
.
.
A Sombra Molhada
A sombra molhada
fixa no asfalto
a imagem roubada:
ser onde me falto.
Quem rouba quem?
Sombra ou imagem?
Quem é que tem
o espelho?
O rio ou a margem?
Alegria Paradoxal
Alegria
para que sobreviva
eterna e corrosiva
o segredo apenas consiste
em uma dose de tristeza
afinal, nesse momento
a certeza
que me existe
é a de ser triste
para que meu sentimento
seja, enfim, pleno de magia:
criando minha sorte
vivendo sua morte
para, triste, morrer de alegria
Meu Quintal
A galáxia é o meu quintal.
É pra lá que vou
quando acabar esse baixo-astral
pra fazer da lua bola-de-gude
acertando as estrelas
e tudo o mais que por aqui não pude
- transar com todas as santas
num beco de saídas tantas
que não exista outro igual
sem gravidade gravitá-las
de cio
engravidá-las
no rio
do orgasmo
num louco desejo carnal.
Sacar que – dentro do contexto espacial
do Universo –
a galáxia nasce lá na cela
da célula cerebral
No Espaço Infinito
Alço um vôo
e vou ao rumo
do que sôo
no espaço
- ao som, me sumo
no som, me faço
No espaço infinito
dilacero meu grito
dor intensa sem remédio
o espaço é um labirinto
aberto, onde eu sinto
a liberdade do tédio
A Seqüência Da Sorte
A sorte
do certo
é o erro
a do corte
é o berro
a do longe
é o perto
a do monge
o deserto
a da glória
é a merda
a da vitória
é a perda
a sorte
da morte
é a vida
a da cura
a ferida
a sorte
só existe
nascida
do azar
o forte
só resiste
após fracassar
Dicotomia Vital
É assim mesmo a vida:
não há cura
quando madura a ferida.
É assim mesmo a sorte:
você cheio de vida
e a vida, cheia de morte.
É assim mesmo o azar:
quando chega o amor
já não encontra quem amar.
Chama
Era uma vez, uma voz
ela ficou muda
quando a beijei por nós.
O seu calor interno
me leva ao céu
com o fogo do inferno.
Vida de Cão
Nunca se pode dizer
que a vida é um ócio
ócio duro de roer
Triste Verdade
Nem toda verdade é triste.
Mas, quando alegre, pergunto:
“É verdade que ela existe?”
Unanimidade Nacional
Ao humor
o melhor
do Millôr
poeMADURO
poema musicado por Marcel Alez
poema MURO
poeMADURO
onde concerto
o tom sinfônico
ao som concreto
dodecafônico
A Margem e o Porre
A margem socorre
o rio
o rio só, corre.
O rio socorre
a sede
a ressaca e o porre
Ao Contista Evandro Ferreira
Queria multidão
ficou só
Cadê o povo?
- “Grogotó! Grogotó!”
Queria sensatez
mente sã
loucura chegou
gritou: “Araã! Araã!”
Pediu filosofia
ganhou cicuta.
Disse com ironia:
“Tudo bem. A vida te executa!”
Universo Dialético
Com verso
observo
meu universo
que
conservo
dialético
inverso
ao patético
Aurora Musical
Ao compositor e amigo Toninho Horta
Em seus acordes
capto a melodia
que toca
e noto
as notas
que ouço
quando ousa
na louca magia
buscar os tons
de todos os sons
plenos de poesia
eternamente intocáveis
às Palavras
e sempre abusados
e sempre conjugados
em sua harmonia
que toca
por este mundo afora
os universos
que vêm de dentro
no improviso
do sentimento que se aflora
nos acordando
nas cordas do instrumento
aos sóis musicais
de sua áurea aurora
Gozando Com a Língua Brasileira
Toda libertinagem
é uma linguagem
divertida
por isso sacaneio
com a língua no veio
metida
descubro seu seio
desfruto seu meio
gozando sua vida
Seu corpo é a fluidez
de um rio
onde navego em seu cio
na linguagem de seu afluente
na sintaxe de seu regaço
de seu regaço quente
Seu corpo é o meu pedaço
meu porto
seu corpo
é o caminho do (uni)verso que traço
seu ventre
é o gozo a liberdade de onde renasço
Dilema da Vida
O dilema é parte
mas par-
-te a vida
a vida que é arte
da qual não me farto
vi-vendo-a entre o parto
o encontro e a partida
Face A Uma Face
Lágrima
dor e rima
lâmina
ânima
que se vê clara
mente
em sua cara
que se cora
se decora
de coração
que se mascara
na ilusão
do disfarce
e se escancara
e se dilacera
na sua vera
face.
Eclipse
Lâmina
mina sangue
olhar mina
o luar
que a navalha apaga
ao meio
no meio da retina
Lâmina
o corte que afaga
ao meio
o luar
no olhar da menina
Nesta imagem visceral e crua
a navalha deixa de ser cruel
ao eclipsar o olho no branco da lua
numa visão claramente poética
entre a objetiva e a estética
da ótica surreal de Buñuel
Labirinto do Tempo
Jamais deixarei
quem já fui
apenas me eternizo
no quem serei
o tempo a vida dilui
o ontem me possui
no hoje nada posso
e tudo destruo
no amanhã destroço
o futuro e logo me possuo
me restauro e me concluo
brincando com a infância
do passado
que é esse menino
malandro traquino
chamado futuro
que se esconde à distância
no labirinto do tempo
onde o sigo todo dia no escuro
onde me perco e me procuro
A Caneta
A caneta
inventa
uma letra
que quebra
o silêncio do papel
que se abre
às Palavras
feito par-de-pernas
das garotas do bordel
cortesãs são as palavras
com as quais fecundamos
o desejo do que somos
na teoria
com elas esporramos
a nossa poesia
O Nada
O nada não
inexiste
o nada é
tudo que existe
o nada é
um fato
que insiste;
pra nada ser
um Ser
já é bastante
dois
a redundância do nada
transando a esmo
na gozação de si mesmo
Tema De Poeta
Sem ter o que fazer
ele inventou o nada
e do nada fez um verso
e já começou a rir
ao ver que ser nada
nada tem que existir
feito o verso que se verteu
ao ventre onde desnasceu
porque já existe
para ele este nada
que tanto insiste
em forma de verso
é tudo que o completa
é o nada inverso
com sua dialética
é a sua essência
é a sua estética
é a sua existência
insistência predileta
no mundo deste nada
que se destina a ser
o universo do poeta
Feliz Cidade
Só as palavras me revelam
todos os sentidos me dizem
sentimentos me criam sentido
só nas palavras
me significo
por isso sigo
as trilhas das letras
que criam palavra que
cria frase que cria verso que
‘ crio
que me cria humano
universo
onde me rio onde
me odeio
onde me crio
me creio enigma onde
me decifro esfinge
fabuloso é o mundo
que não finge
é o imaginário vero
o prazer do ser que gero
quando a tristeza se deleta
na feliz cidade onde a gente
lê e tira a vida de letra
Antagonismos
Nossos desencontrários
desfeitos afetos
abstratos concretos
des-sentimentos vividos
des-pensados sentidos
des-marcados horários
no Motel Existência
onde vou comer a Vida
gozando a sua essência
Meu Melhor Erro
Ser humano é meu melhor erro
é minha imperfeição preferida
é o perfeito descuido da vida
na existência do eterno enterro
minha vida é conexão sem nexo
é o imperfeito que se fez complexo
é o humano que de tão imperfeito
gerou a qualidade na porra do defeito
Vida Não Preservada
Existir não é um verbo preciso
mas sim relativo.
Sei que viver é muito perigoso
mas, pior é ser gozado no preservativo
A cultura da nova-rica
é elevar Picasso
e desconhecer Guernica
O Dia Inaugura O Sol
O dia inaugura o sol
o sol, a esperança
que a gente não cansa
de esperar
e quando chega, já insatisfeito
vem rarefeita
quanto mais se arruma
menos ela se ajeita.
Neste panorama
amanheço
envileço
envelheço o velho
me faço iconoclasta
quebro o espelho de narciso
na imagem afogada do lago
de um cínico sinistro sorriso
que apedrejo e jamais afago.
Não inflo meu ego.
Quero é a visão do cego
não o olhar contemplativo
mas, sim, corrosivo
de quem vive o motivo
de sua existência.
Com toda paz
- ciência semeada por Jó.
Com toda paciência
de quem vive só.
Vejo meu profundo
mundo
externo
onde o opaco é o brilho
e a liberdade do caudilho
nossa prisão nosso inferno.
Observatório Da Margem
Assisto ao universo do rio
rio de seu mundo novelho
que sempre corre macio
feito meu eterno espelho
nele tudo segue passivo
sem saber de seu rumo
em seu mundo sem objetivo
em que jamais me resumo.
Este rio segue sem rotas
se mete a mar
deságua seu plano
quando rebeldes gotas
cismam em criar
um mundoceano
mergulhando nas águas do Humano
de quem ousa e ousará
ser gota
pra afogar o rio
desafiar todo desafio
pois o rio é o choro
que se es-gotará.
Será o rio que me reflete
ou eu que o reflito?
Que imagem se repete
no espelhar desse conflito?
No Livro
No livro me prendo
me prendo e me livro;
no livro me vendo
vejo que ainda vivo.
No livro me faço
Ser; sou seu parceiro.
Ele é meu pedaço
meu pedaço inteiro.
No livro labirinto
a saída que possuo;
me perco e me sinto
no verso que concluo.
Auto Retrato
Minha fisionomia carrega
o ser pleno do amanhã
ela se expõe e se nega
denuncia e se entrega
ao mundo onde fez
sua loucura sã
de sensatez
Heleno Álvares
- poemas inéditos e seleção poética
organizada pelo autor -
"DESORDEM CONTEMPORÂNEA"
Idioma Surdo
O mundo se escondeu do mundo
eu ainda procuro por mim
o poço se perdeu no fundo
o começo se acabou no meio
do fim
o Absoluto se dissolveu no Relativo
inteiro, o nada se viu em tudo
no vivo, o morto continua vivo
o Idioma para não se saber mudo
ensurdeceu seu sentido auditivo
para entender a "linguagem do ab-surdo"
A Sensatez do Absurdo
A palavra
edifica a idéia
que independe
de quem a diz
ou a cala.
O poema se faz
no silêncio da fala.
Simples Versus Complicado
Em cada gesto inconsciente
há um ato premeditado.
Em cada mentira da gente
há um segredo revelado.
Em cada passo na avenida
há um constante olhar da morte.
Em cada morte que é vivida
há uma vida bem mais forte.
Em cada nova humilhação
há uma glória derradeira.
em cada cego, o coração
há de transpor qualquer barreira.
Esporro
Que esta vida morra
que outra morte nasça
grávida de outra porra
que gere nova raça.
Qu esta raça nos gere
em uma vida fraterna
onde ninguém espere
a esperada vida eterna.
Que esta vida nos leve
a um mundo coerente
onde a morte seja breve
e a vida, permanente.
Megera
Megera
é a era
que gera
dilemas;
sistemas
humanos Megera
urbanos é a era
insanos; que gera
espera;
esfera
política
- não lítica –
e crítica;
Megera
é a era
que gera
e gira;
na ira
de gente Megera
de mente é a era
demente; que gera
problemas;
algemas
prendidas
nas vidas
pendidas.
Variações Cotidianas
digo
(quase sempre)
tudo pensado
penso
(quase nunca)
nada dizendo
sonho
(inexistindo)
sempre acordado
acordo
(em pesadelo)
quase vivendo.
Vivo
(suicidando)
já estando morto
morro
(toda vida)
de novo nascendo
renasço
(na manhã)
do mesmo aborto
amanheço
(já tarde)
a noite sendo.
Remendo
(as dores)
a vida, no retalho
costurando
(neste fiapo)
tão forte mortalha
se é distante
(a vida)
vou no atalho
se inda vivo
(ou quase)
a morte não falha.
Palavr (e) ando
aos poetas Haroldo e Augusto de Campos
Pra entender
o meu modo de cantar
há que se saber
o tempo certo de se plantar
pra não errar
na hora de colher.
Compreender
que a pa lavra
campos (H)ar(O)a (L)dos
&
Augustos
e planta
concretos sentimentos
pra colhermos
a magia
da poesia (que degusto)
na PALAVRA
Impressões
Diletas
gi
ta
is
de letras
IMPRESSÕES
letais
con-fusões
letrais
&
etecéLetras
&
coisas e tais
Verba Verbal
Vendo
Palavras
Lucro
Sentidos
Hai-Kai Para Um Tango
Con/
Cisão
rasguei o verbo
e o coração
Passarinhar
Invadir-me
todo, nas profundezas do meu ego
mergulhar às represas
de certas incertezas
que nego.
E me saber
réptil
frágil
pra logo ser
fértil
ágil
o bastante pra voar.
Seguir ao ar
enfim, na liberdade do meu vôo
percorrer meu infinito
sem reprimir o grito
que sô(u)o.
E me esquecer
réptil
frágil
pra sempre ser
fértil
ágil
o bastante pra vencer.
Sólida Saara
Tudo que é certo
- por engano -
se encontra no erro.
Em todo deserto
humano
a Saara solidão
medra seu árido berro.
Tudo que é sólido
e nada
sabe-se líquido
e certo:
vai pro fun-
do mar.
Viver
é o surfar nas marés
do verbo amar
Existir
é o preciso navegar
o mergulhar
nas ondas do desengano
sem se afogar.
Linguaginga
Nasce o meu estranho idioma
no céu acima da língua
boca de Bêja bendita Sodoma
no grito mudo de quem xinga
nas rezas e batinas de Roma
na bela que nos seduz e se vinga
na fera que açoita quem a doma
no gesto que deixa o Verbo à míngua
no verso em seu estado de coma
quando o poeta vira sua pinga
joga pro santo e o verso toma
molha a Palavra espanta mandinga
e a tudo isso o ritmo se soma
mostrando que o poema é pura ginga.
Música
para Tom Jobim
É a harmonia
poética
é o ritmo
cardíaco
é a artéria-mestra
dissonante
pleno sentimento
uníssono
a Música
é a estética
atônica
é o Tom da saudade
de uma nota só
é o desa-finado coração
NA ESTRADA
o andamento SOL-
itá-RIO
é o acorde brevíssimo
de toda uma escala
que cala
na pausa
de um contratempo
Bendita Livraria
Na bendita livraria
pra sempre me livrei
da falsa realidade
e me fiz em poesia
e ainda inventei
a minha liberdade
Na bendita livraria
ainda hoje me livro
sempre quando leio;
e desta lúcida fantasia
(sociedade em que vivo)
sou fruto de seu meio
Na bendita livraria
tenho a louca chance
de ver onde me encontro:
seja na ousada poesia
na crônica, no romance
ou num livro de conto
Visceralizada Voz
para Irene Portela
Irene Portela
anônima estrela
sinto saudades prévia e pós
de sua tristíssima bela
visceralizada voz
Seu canto é a sirene
que triste ri Irene
é o lamento é o blues
é a emoção perene
que dilacerada seduz
Na trilha do rumo norte
teve o desrrumo a dessorte
não chegou à Estação Glória
Irene
sem pedir licença passaporte
ecoa o vocal na galáxia oca
rindo e cantando nossa memória
indo até o céu de sua boca
Fragmentos De Um Poema
para Valnati Natal
O poeta só se faz
quando se frag-
menta
em emoções
raciocínios
em alegria
em tormenta
inventa sua própria regra
como desgarrada
ovelha negra
tendo a ousadia como emblema
o poeta só
se completa
quando se desintegra
na galáxia do poema
o dialeto dos dilemas
traduzindo em poemas
me salvo desse hospício
me faço Torquato
inverto o precipício
onde vôo mais alto
um outro salto
e de novo ensaio
Caio
na louca lucidez
Caio
na embriaguez
caio
me nego:
Quando me ergo
para Caion M. Natal
INVERTIDO POEMA
O Gozo Da Estética
Há uma rara raça
toda de carrança
onde só há reaça
que quando avança
é só na marcha ré.
O saudosismo me cansa
sou mais o que não é.
Por isso na gema do povo
esporro minha poética
desfaço a gênese nefasta
no gozo de outra estética.
Na linhagem do Novo
me faço iconoclasta
e quebro a forma do ovo.
Roda Gigante
A vida me solta
o mundo é solto
e de volta em volta
giro giro mas não volto
A vida me falta
o mundo se solta
a vida se salta
o mundo me volta
A vida dá volta
no mundo sou solto
a vida me escolta
o mundo é revolto.
"OBSERVATÓRIO INSÓLITO"
Dedicatória
À poesia me dedico
tentando ser literário;
só ela me torna rico
no verso onde me edifico
como seu feliz operário.
Mundo Diminuto
De minuto em minuto
de segundo em segundo
vejo o mundo de luto
e a luta pelo mundo
Diminuto, o mundo é diminuto.
Vasto é o verso profundo.
Poema do AmorTeceDor
Amor tecido
que se rasga ao vento
amor tece
a morte do pensamento
enaltecido
o amor tece a dor
e o impacto se faz mais forte
enquanto a vida é tecelã
da morte
o gozo é o artesão
do amor
este jogo do azar
e da sorte
Musa Curitibana
Eu a quero feliz
sem amarras
sem cicatriz
Eu a quero liberta
das garras
da paixão incerta
Eu a quero
Observatório 1
O poema me poeta
a palavra me lavra
o gesto me gesta
o passo me compassa
a rota me fascina
o espaço me cativa
a vida me passa
o livro me livra
a loucura me sóbria
Viver é caro
existir é raro
A estética
é o conteúdo
não estático
Arrotos de arrogância
rotos na fina elegância
A Margem e o Poeta
para Gilson Cavalcante
À esquerda
- margem do sentimento -
vê-se a sólida poética
do poeta que mergulha
na metáfora
do rio de dentro
onde elabora
seu ritmo:
afluente
de versos numa estética
em movimento
Lembrando Lupi
Em meu canto visceral
deixei vísceras no hall
do meu tédio
levei a dor ao terraço
rasguei tripas de aço
- ouvir Lupicínio
foi o único remédio
Com Você
Com você
quero dividir:
O mesmo teto
o nosso tato
o nosso afeto
o mesmo fato
o mesmo leito
o nosso abraço
o nosso jeito
o mesmo espaço
o mesmo diário
a nossa carência
a nossa vivência
o mesmo ideário
Toda Metade
Inteiro
quero seu veio
que é seu meio
minha toda metade
um quarto uma cama
um terço um pecado
uma dose de felicidade
e um gozo de quem ama
Cidade Feliz
Cidade feliz
só existe
quando o povo
não é triste
quando o Novo
na feliz cidade
nos leva à raiz
da sábia saudade
A Água e a Sede
A água me satifaz
porque a sede me existe
a alegria só me refaz
porque
felizmente
sou triste
- o que é um modo de paz
com esse riso que resiste.
II
Como tenho sede
de Existência
busco a água
de sua essência.
O Poema da Resistência
Apesar de vivente
apesar de ser
só mente
insisto
mas não sou
um Ser
Existente
apenas
Re-existo
re-existo
re-existo
resisto
Diálogo Com O Silêncio
Silêncio
se penso
você existe?
Se vejo
desejo
uma mulher
você resiste?
Silêncio
a senhora Tristeza
quando cheia de alegria
é triste ou é seu oposto
é prosa ou é poesia
é máscara ou é rosto?
- Tristeza é a Alegria
que caiu na boemia
amarrou um porre
e viu sua dupla face.
Silêncio
você sempre morre
e em seguida renasce
para em algum grito
pleno de infinito
mostrar seu disfarce.
Afinal, quando você fala?
Quando é que se insinua?
Que linguagem é a sua
se só diz quando cala?
- Minha fala
está na garganta
da pedra
está na mudez
que medra
está na sintaxe do oco
está no espaço do eco
minha voz
é o sonho do grito
o sono da laringe
fonema do infinito
o Verbo da Esfinge
John Cage e Paulinho da Viola
“Eu quero apenas (...)
silêncio por favor”
à Música, uma pausa
de um minuto
para John Cage
nos mostrar a Poesia
ao sentir cada nota
com seu valor
sacar o som que dilacera
o luto
neste mudo acorde
pleno de harmonia
Poema Conciso
Pensamento preciso:
Vida:
Lágrima e sorriso
Ruído...
... és a interferência brusca
na música
de quem te busca
em forma de harmonia.
Ruído, mate a monotonia.
Som do Surdo
Leminskaetano na mente sigo a poesia
- escrita sem chave onde me tranco –
livre pra verSaciar meu verso branco
meu verso inverso a este cine-mundo
degustando da carvalheana humorironia
a dose proética num copo sem fundo
arrancando voz da boca de todo mudo
procurando nova forma de harmonia
encontrar o som que se perdeu do surdo
O Ovo e o Oco
O ovo no oco
é o grito do eco
o eco no espaço
é o fundo do oco
onde o ovo do mundo
gira gira e não sai
desse inferno mudo
mas apesar de tudo
o mundo não cai
ai
ai
ai
.
.
A Sombra Molhada
A sombra molhada
fixa no asfalto
a imagem roubada:
ser onde me falto.
Quem rouba quem?
Sombra ou imagem?
Quem é que tem
o espelho?
O rio ou a margem?
Alegria Paradoxal
Alegria
para que sobreviva
eterna e corrosiva
o segredo apenas consiste
em uma dose de tristeza
afinal, nesse momento
a certeza
que me existe
é a de ser triste
para que meu sentimento
seja, enfim, pleno de magia:
criando minha sorte
vivendo sua morte
para, triste, morrer de alegria
Meu Quintal
A galáxia é o meu quintal.
É pra lá que vou
quando acabar esse baixo-astral
pra fazer da lua bola-de-gude
acertando as estrelas
e tudo o mais que por aqui não pude
- transar com todas as santas
num beco de saídas tantas
que não exista outro igual
sem gravidade gravitá-las
de cio
engravidá-las
no rio
do orgasmo
num louco desejo carnal.
Sacar que – dentro do contexto espacial
do Universo –
a galáxia nasce lá na cela
da célula cerebral
No Espaço Infinito
Alço um vôo
e vou ao rumo
do que sôo
no espaço
- ao som, me sumo
no som, me faço
No espaço infinito
dilacero meu grito
dor intensa sem remédio
o espaço é um labirinto
aberto, onde eu sinto
a liberdade do tédio
A Seqüência Da Sorte
A sorte
do certo
é o erro
a do corte
é o berro
a do longe
é o perto
a do monge
o deserto
a da glória
é a merda
a da vitória
é a perda
a sorte
da morte
é a vida
a da cura
a ferida
a sorte
só existe
nascida
do azar
o forte
só resiste
após fracassar
Dicotomia Vital
É assim mesmo a vida:
não há cura
quando madura a ferida.
É assim mesmo a sorte:
você cheio de vida
e a vida, cheia de morte.
É assim mesmo o azar:
quando chega o amor
já não encontra quem amar.
Chama
Era uma vez, uma voz
ela ficou muda
quando a beijei por nós.
O seu calor interno
me leva ao céu
com o fogo do inferno.
Vida de Cão
Nunca se pode dizer
que a vida é um ócio
ócio duro de roer
Triste Verdade
Nem toda verdade é triste.
Mas, quando alegre, pergunto:
“É verdade que ela existe?”
Unanimidade Nacional
Ao humor
o melhor
do Millôr
poeMADURO
poema musicado por Marcel Alez
poema MURO
poeMADURO
onde concerto
o tom sinfônico
ao som concreto
dodecafônico
A Margem e o Porre
A margem socorre
o rio
o rio só, corre.
O rio socorre
a sede
a ressaca e o porre
Ao Contista Evandro Ferreira
Queria multidão
ficou só
Cadê o povo?
- “Grogotó! Grogotó!”
Queria sensatez
mente sã
loucura chegou
gritou: “Araã! Araã!”
Pediu filosofia
ganhou cicuta.
Disse com ironia:
“Tudo bem. A vida te executa!”
Universo Dialético
Com verso
observo
meu universo
que
conservo
dialético
inverso
ao patético
Aurora Musical
Ao compositor e amigo Toninho Horta
Em seus acordes
capto a melodia
que toca
e noto
as notas
que ouço
quando ousa
na louca magia
buscar os tons
de todos os sons
plenos de poesia
eternamente intocáveis
às Palavras
e sempre abusados
e sempre conjugados
em sua harmonia
que toca
por este mundo afora
os universos
que vêm de dentro
no improviso
do sentimento que se aflora
nos acordando
nas cordas do instrumento
aos sóis musicais
de sua áurea aurora
Gozando Com a Língua Brasileira
Toda libertinagem
é uma linguagem
divertida
por isso sacaneio
com a língua no veio
metida
descubro seu seio
desfruto seu meio
gozando sua vida
Seu corpo é a fluidez
de um rio
onde navego em seu cio
na linguagem de seu afluente
na sintaxe de seu regaço
de seu regaço quente
Seu corpo é o meu pedaço
meu porto
seu corpo
é o caminho do (uni)verso que traço
seu ventre
é o gozo a liberdade de onde renasço
Dilema da Vida
O dilema é parte
mas par-
-te a vida
a vida que é arte
da qual não me farto
vi-vendo-a entre o parto
o encontro e a partida
Face A Uma Face
Lágrima
dor e rima
lâmina
ânima
que se vê clara
mente
em sua cara
que se cora
se decora
de coração
que se mascara
na ilusão
do disfarce
e se escancara
e se dilacera
na sua vera
face.
Eclipse
Lâmina
mina sangue
olhar mina
o luar
que a navalha apaga
ao meio
no meio da retina
Lâmina
o corte que afaga
ao meio
o luar
no olhar da menina
Nesta imagem visceral e crua
a navalha deixa de ser cruel
ao eclipsar o olho no branco da lua
numa visão claramente poética
entre a objetiva e a estética
da ótica surreal de Buñuel
Labirinto do Tempo
Jamais deixarei
quem já fui
apenas me eternizo
no quem serei
o tempo a vida dilui
o ontem me possui
no hoje nada posso
e tudo destruo
no amanhã destroço
o futuro e logo me possuo
me restauro e me concluo
brincando com a infância
do passado
que é esse menino
malandro traquino
chamado futuro
que se esconde à distância
no labirinto do tempo
onde o sigo todo dia no escuro
onde me perco e me procuro
A Caneta
A caneta
inventa
uma letra
que quebra
o silêncio do papel
que se abre
às Palavras
feito par-de-pernas
das garotas do bordel
cortesãs são as palavras
com as quais fecundamos
o desejo do que somos
na teoria
com elas esporramos
a nossa poesia
O Nada
O nada não
inexiste
o nada é
tudo que existe
o nada é
um fato
que insiste;
pra nada ser
um Ser
já é bastante
dois
a redundância do nada
transando a esmo
na gozação de si mesmo
Tema De Poeta
Sem ter o que fazer
ele inventou o nada
e do nada fez um verso
e já começou a rir
ao ver que ser nada
nada tem que existir
feito o verso que se verteu
ao ventre onde desnasceu
porque já existe
para ele este nada
que tanto insiste
em forma de verso
é tudo que o completa
é o nada inverso
com sua dialética
é a sua essência
é a sua estética
é a sua existência
insistência predileta
no mundo deste nada
que se destina a ser
o universo do poeta
Feliz Cidade
Só as palavras me revelam
todos os sentidos me dizem
sentimentos me criam sentido
só nas palavras
me significo
por isso sigo
as trilhas das letras
que criam palavra que
cria frase que cria verso que
‘ crio
que me cria humano
universo
onde me rio onde
me odeio
onde me crio
me creio enigma onde
me decifro esfinge
fabuloso é o mundo
que não finge
é o imaginário vero
o prazer do ser que gero
quando a tristeza se deleta
na feliz cidade onde a gente
lê e tira a vida de letra
Antagonismos
Nossos desencontrários
desfeitos afetos
abstratos concretos
des-sentimentos vividos
des-pensados sentidos
des-marcados horários
no Motel Existência
onde vou comer a Vida
gozando a sua essência
Meu Melhor Erro
Ser humano é meu melhor erro
é minha imperfeição preferida
é o perfeito descuido da vida
na existência do eterno enterro
minha vida é conexão sem nexo
é o imperfeito que se fez complexo
é o humano que de tão imperfeito
gerou a qualidade na porra do defeito
Vida Não Preservada
Existir não é um verbo preciso
mas sim relativo.
Sei que viver é muito perigoso
mas, pior é ser gozado no preservativo
A cultura da nova-rica
é elevar Picasso
e desconhecer Guernica
O Dia Inaugura O Sol
O dia inaugura o sol
o sol, a esperança
que a gente não cansa
de esperar
e quando chega, já insatisfeito
vem rarefeita
quanto mais se arruma
menos ela se ajeita.
Neste panorama
amanheço
envileço
envelheço o velho
me faço iconoclasta
quebro o espelho de narciso
na imagem afogada do lago
de um cínico sinistro sorriso
que apedrejo e jamais afago.
Não inflo meu ego.
Quero é a visão do cego
não o olhar contemplativo
mas, sim, corrosivo
de quem vive o motivo
de sua existência.
Com toda paz
- ciência semeada por Jó.
Com toda paciência
de quem vive só.
Vejo meu profundo
mundo
externo
onde o opaco é o brilho
e a liberdade do caudilho
nossa prisão nosso inferno.
Observatório Da Margem
Assisto ao universo do rio
rio de seu mundo novelho
que sempre corre macio
feito meu eterno espelho
nele tudo segue passivo
sem saber de seu rumo
em seu mundo sem objetivo
em que jamais me resumo.
Este rio segue sem rotas
se mete a mar
deságua seu plano
quando rebeldes gotas
cismam em criar
um mundoceano
mergulhando nas águas do Humano
de quem ousa e ousará
ser gota
pra afogar o rio
desafiar todo desafio
pois o rio é o choro
que se es-gotará.
Será o rio que me reflete
ou eu que o reflito?
Que imagem se repete
no espelhar desse conflito?
No Livro
No livro me prendo
me prendo e me livro;
no livro me vendo
vejo que ainda vivo.
No livro me faço
Ser; sou seu parceiro.
Ele é meu pedaço
meu pedaço inteiro.
No livro labirinto
a saída que possuo;
me perco e me sinto
no verso que concluo.
Auto Retrato
Minha fisionomia carrega
o ser pleno do amanhã
ela se expõe e se nega
denuncia e se entrega
ao mundo onde fez
sua loucura sã
de sensatez
sexta-feira, 23 de janeiro de 2009
Estrela e Raiz
Este poema foi escrito em homenagem ao meu pai, Elmo, que hoje dia 23 estaria fazendo aniversário.
Estrela e Raiz
Levei a vida como pude;
a vida me levou como quis.
Hoje, atingi a plenitude:
sou pó estrela fruto e raiz.
Flutuo neste espaço suave
a brincar de eternidade;
meu pé é a asa de uma ave
a romper toda gravidade.
Com quem me guarda na memória
saudoso, crio convivência.
Minha vida está na história
onde o amor fez-se em sua essência.
Heleno Álvares
25/06/08
terça-feira, 20 de janeiro de 2009
Aviso aos Blogautas
Atenção!
Caro(a)s Blogautas desta querida Via-Lactea virtual-eletrônica: hoje entram em ação "Poesia e O Escambau" e Barack Obama! Por isso, pergunto: quem você considera que tem maior poder: a Poesia ou a Política? Por quê?
Abração!
Heleno Álvares
Heleno Álvares
segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
O Tom da Saudade Jobiniana
O Tom da Saudade Jobiniana
Por Heleno Álvares
Por Heleno Álvares
Hoje, 25 de janeiro, estaria aniversariando o grande maestro e compositor Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, o Tom da nossa música verdadeiramente brasileira e de altíssima qualidade. Tanto na parte melódica, quanto no que se refere à elaboração de seus versos, esbanjando, assim, uma maravilhosa poesia através de sua música.
Através do amigo Lúcio Rangel, nasceu a dupla que tanto divulgou o Brasil com suas indiscutíveis parcerias: Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Tom Jobim conta que estava no bar Vilarinho, onde trabalhava como pianista, quando Vinícius chegou, após sair do Itamarati. Em uma dessas noites Lúcio Rangel perguntou ao poeta: “Você não estava procurando um cara pra fazer a música de Orfeu da Conceição? Pois já achou”, disse ao se referir a Jobim.
Sempre de muito bom humor (uma de suas grandes características), Tom Jobim tem casos muito engraçados. Certa vez, numa mesa de bar, ao ser apresentado a uma senhora, disse:
- Meu nome é Antônio Carlos Jocafi. Mas pode me chamar de Tom Zé.
Era um tremendo gozador!
Outro caso onde se mistura humor e constrangimento: Ao ver o poeta Carlos Drummond de Andrade andando na calçada, em Copacabana, o já famoso maestro Antônio Carlos Jobim não teve dúvidas e, espantado, exclamou: “Carlos Drummond!” E o poeta sempre muito tímido, respondeu: “Sim. Maestro Antônio Carlos Jobim!” Neste instante, Tom Jobim se ajoelhou e beijou os pés de Carlos Drummond de Andrade que, absolutamente surpreso, reagiu: “maestro, maestro, por favor, que é isso maestro?!” Este caso mostra a espontaneidade de Jobim.
Em outra ocasião, perguntado sobre o crítico e compositor Nélson Motta, respondeu prontamente: “É o José Ramos Tinhorão do rock.”
E lembrando a velha discussão entre “letras” e poemas, pode-se dizer que Tom Jobim é autor de um dos mais belos poemas brasileiros, que é “Águas de Março”. E, se repararem, perceberão a nítida influência de Carlos Drummond, através de seu poema “José”. A cadência rítmica que o compositor mostra em sua letra/poema evidencia a citada influência. Como exemplo, podemos observar as seguintes estrofes: “É João, é José/ é um espinho na mão/ é um corte no pé/é pau, é pedra/é o fim do caminho/é um resto de toco/é um pouco sozinho/é um passo, é uma ponte/é um sapo, é uma rã/é um belo horizonte/é uma febre terçã/são as águas de março/fechando o verão/é a promessa de vida/no teu coração” (Tom Jobim) e “E agora, José?/a festa acabou/a luz apagou/o povo sumiu/a noite esfriou/e agora, José?/e agora, você?(...)/está sem mulher/está sem discurso/está sem carinho/já não pode beber/já não pode fumar/cuspir já não pode/a noite esfriou/o dia não veio/o bonde não veio/o riso não veio/não veio a utopia/e tudo acabou/e tudo fugiu/e tudo mofou/e agora, José?” (Carlos Drummond de Andrade).
É interessante notar que, além do parentesco rítmico em relação ao poema “José”, há também alusões que nos remetem a outro maravilhoso poema Drummondiano que é “No Meio Do Caminho” quando Tom diz “é pau, é pedra/é o fim do caminho” criando uma paráfrase sobre os versos do poeta que diz “tinha uma pedra/no meio do caminho”.
Muitos anos depois Tom telefonou para Carlos Drummond pedindo-lhe que indicasse algum dicionário de rimas. Drummond respondeu: “mas, quem já escreveu Águas de Março não precisa de nenhum dicionário de rimas.”
Tentando dentro dos meus limites, publiquei em meu primeiro livro (“Desordem Contemporânea”) uma singela homenagem a este gênio da música e da cultura brasileiras.
Música
Para Tom Jobim
É a harmonia
poética
é o ritmo
cardíaco
é a artéria-mestra
dissonante
pleno sentimento
uníssono
a Música
é a estética
atônica
é o Tom da saudade
de uma nota só
é o desa-finado coração
NA ESTRADA
o andamento SOL-
Ita-RIO
é o acorde brevíssimo
de toda uma escala
que cala
na pausa
de um contratempo
Heleno Álvares
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